Dias como o de hoje deixam-me, quase sempre, um sabor agridoce. Quando acordo e vejo aquela luz difusa penetrar timidamente pelas frinchas da minha persiana corrida, sei imediatamente que será um dia de ausência. Nestes dias assim, que me parecem pintados numa tela, a preto e branco, raramente me sinto presente. É como se tivesse ficado tanto tempo a contemplar aquela tela, que passo a fazer parte dela. Uma realidade, que existindo, é inexistente para o mundo dito real. É sempre assim. A minha alma fica estranhamente desconexa do meu corpo, não estou em mim, como se de uma projecção astral se tratasse e eu visse todos os meus actos de fora do meu corpo. Á minha volta ecoa um silêncio pesado, interrompido ocasionalmente pelo ruídos das vozes que se me dirigem, mas que não me fazem o menor sentido. Dou por mim completamente abstraída, sem no entanto, estar a pensar em coisa alguma. Limito-me a olhar, petrificada, sem sentimentos ou pensamentos, num mutismo absurdo e assustador. Sou apenas uma observadora da minha própria vida, nestes dias cinzentos e frios.
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