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Enrola-te em ti mesma, como se isso fosse manter-te inteira, como se pudesse impedir que a escuridão alastre e te devore até á essência, deixando apenas um fantasma de ti.


Encolhe-te quando doer, num gesto quase automático, como se ao encolheres-te conseguisses escudar-te da dor, como se pudesses esconder-te e vê-la passar, apenas de raspão, quase sem te tocar.


Cerra os dentes, morde a bochecha, o que for preciso, para não gritares quando for demais, quando já não a conseguires suportar, e sofre em silêncio.


Não os olhes nos olhos, para que não vejam o vazio de ti alternar com a tristeza que transborda, inundando-te o olhar, e não terás de ver em olhos alheios o sentimento de pena que lhes inspiras e que tanto repudias.


Não fales sobre isso, deixa que o nó que sentes na garganta, te estrangule as palavras, em vez de as dizeres, em vez de lhes confessares que estás estilhaçada, e nunca te poderão apontar a fraqueza, nunca terão as armas para te poderem ferir novamente.


Não deixes que te toquem, com o pretexto de te confortarem, sob pena de ruíres completamente, de veres as tuas muralhas, que tão cuidadosamente ergueste, inertes aos seus pés, apenas para que possam trepar por elas, pisando o que ainda resta do forte que te protegeu, até te poderem olhar de cima.


Não deixes que te vejam chorar. Engole as lágrimas, afoga-te nelas se preciso for, mas não derrames uma única. Não te permitas declarar, de forma tão indesmentível, a tua fragilidade. Não deixes que te saibam capaz de sentir até ás lágrimas.


Enclausura-te em ti mesma, faz do teu silêncio o teu casulo e não deixes que saibam o que te consome.


Sorri, mesmo sem vontade, ninguém dará pela diferença. E se te perguntarem se estás bem, mente, ninguém saberá.


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