Café



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Adoro café...

Tinha 15 anos quando bebi o meu primeiro café, numa pastelaria ao pé da escola secundária onde estudava e onde, invariavelmente, o meu grupo de amigos matava o tempo entre a hora a que chegavamos à escola e a primeira aula da manhã, no meio de cadernos, trabalhos de casa feitos às três pancadas e risos, tantos risos... Gostei tanto do sabor reconfortante daquela bebida quente, numa manhã de inverno tão fria, que bebi outro... Nunca mais deixei de beber café... O café foi, ao longo dos anos, o meu aliado nas longas noites de estudo enquanto frequentei a Universidade, e depois disso, quando o trabalho me obrigava a maratonas nocturnas... Foi e ainda é, o meu calmante, sim, parece impossível, eu sei, mas sinto-me sempre mais calma depois de um café, nos dias tristes em que a vida parece demasiado difícil de suportar e me apetece viver escondida num buraco, longe dos dramas e preocupações do dia a dia...

O café é a minha bebida preferida, não apenas pelo sabor, mas porque me aquece a alma... é mais do que apenas café... Lembra-me conversas à volta da mesa de jantar, segredos murmurados, desabafos, lágrimas partilhadas, gargalhadas incontidas...  Lembra-me páginas em branco, livros por ler e  máquinas de escrever antigas... Lembra-me viagens de comboio e faróis perdidos... Lembra-me amanheceres cheios de sol e finais de tarde chuvosos... Lembra-me partidas e reencontros, finais e recomeços...  Lembra-me amor, paixão, desejo... E amizade, confiança, lealdade... Lembra-me de quem gosto e de quem gosta de mim...

Gosto do café amargo, sem açúcar e, dependendo se é Inverno ou Verão, quente ou com gelo... Não sei se há algum teste do tipo "o que o seu café diz acerca da sua personalidade" mas gostava de saber o que a minha paixão por café diz sobre mim...

Adoro café...

Adeus não...



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- Adeus pequena. - Dizes, envolvendo-me no teu abraço familiar e fazendo-me uma festa no cabelo. Mais do que o gesto, as palavras que escolhes para te despedires de mim magoam-me. Encosto a testa no teu ombro e inspiro, na tentativa de me acalmar e de conseguir segurar as lágrimas prestes a começarem a cair. Sou traída pelo teu perfume... mais uma dolorosa recordação que me assombrará nos próximos meses. As lágrimas salgadas molham a tua camisa, e percebes que estou a chorar. Afastas-me gentilmente e a minha visão turva descobre os teus olhos inundados de compreensão.

- Odeio que digas adeus... - digo-te entre soluços, colocando o indicador sobre os teus lábios ao ver-te abrir a boca para responder - Já sei que tens de ir, e sim, por mim não ias a lugar nenhum, mas não é a isso que me refiro. - continuo, ciente de que te preparavas para me explicar, pela milésima vez, as razões para a tua partida. - Refiro-me a dizeres adeus. Odeio que digas isso. Adeus parece uma despedida definitiva... como se nunca mais nos fossemos voltar a ver... como se um de nós fosse morrer...Como se nunca mais pudesse voltar a abraçar-te, a ouvir a tua voz, a olhar-me nos olhos... Odeio essa palavra... Escolhe outra expressão qualquer... Até depois, por exemplo... Qualquer coisa que me dê esperança...A que me possa agarrar quando não estiveres aqui e que me ajude a sobreviver á tua ausência... Que soe a promessa de um reencontro marcado... Adeus não. Adeus nunca. - Termino com a voz embargada.

Puxas-me para os teus braços, das-me um beijo protector na testa, de olhos fechados e murmuras -Prometo pequena - e sais, com a mala na mão, sem nunca olhares para trás, sem nunca olhares para mim. Sei que escondes as tuas próprias lágrimas, que escondes de mim a tua própria dor. 

 Fico á porta, a contemplar o vazio, no exacto local onde saíste do meu ângulo de visão, durante muito tempo, com as lágrimas a correrem livremente... Não me apercebo do cair da noite, dos sons da rua a silenciarem, um por um até se extinguirem á medida que as horas passam... Limito-me a chorar.




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