Nunca tinha reparado nas mudanças subtis no castanho dos teus olhos, até estarmos frente a frente e os ver escurecer, á medida que a tristeza os invade. Quero dizer alguma coisa que dissipe a névoa que lá se instalou, mas o nó na garganta impede-me de falar e desvio o olhar. Sinto o calor da tua mão, quando pegas na minha e ao levantar novamente o olhar para o teu rosto vejo um meio sorriso apagado. Dizes-me que a culpa não é minha, que só queres que seja feliz... e pedes desculpa. Pedes desculpa pelas coisas desagradáveis que disseste, por me fazeres ficar triste... Prometes que estarás sempre do meu lado, que poderei sempre contar contigo... E eu continuo em silêncio.
Se começar a falar, não serei capaz de conter as lágrimas, irei desfazer-me em mil pedaços na tua frente e tudo se tornará infinitamente pior. Sei que interpretarás mal as minhas lágrimas. E como cobarde que sou, deixo que me consoles, quando deveria ser ao contrário e calo as mentiras que vinha preparada para te dizer... Calo as recriminações e os absurdos que sei que te afastariam definitivamente de mim...
Finjo um sorriso que não sei se te conseguirá iludir e limito-me a murmurar um obrigada. E vejo-te levantar e sair para a rua cheia de sol.
Não conheces as mentiras que calei. E não imaginas as verdades que me levaram a calá-las. Não sabes que preciso de ti e que a simples ideia de te afastar, ainda que com mentiras, abre um imenso buraco no meu peito capaz de me fazer sangrar até á morte. Não sabes que te quero demasiado para ser capaz de viver tranquila sabendo-te distante e magoado. Não sabes que me é muito mais simples viver com o teu olhar carregado de mágoa por perto do que saber que os teus olhos se iluminam longe de mim. Não sabes que magoar-te continuamente, de todas as vezes que, inevitavelmente, os nossos caminhos se cruzarem, é mais fácil do que magoar-te apenas uma vez e nunca mais te encontrar pelo caminho. Não sabes, enfim, que sou egoísta e que suportar a tua dor me parece mais possível do que suportar o meu sofrimento pela tua ausência. Ou saberás?
E enquanto caminho pela cidade, com o sol já a pôr-se, perco-me na constatação de que nunca serei tão altruísta como tu, de que terei de viver com a culpa do que te fiz. Não tenho culpa? Não sou outra coisa que não culpada. E nem sequer posso pedir-te perdão...Nem sequer o mereço...
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