Hoje apetece-me...



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Acordo com a luz pálida a entrar pela janela e o som do vento a agitar as árvores do jardim, da chuva a bater na vidraça. Espreguiço-me e olho para o relógio na cabeceira da cama. Bolas! Suspiro, resignada perante a ideia de ter de me levantar e enfrentar o frio da rua, o barulho do trânsito, as conversas de café... Olho para ti, ainda adormecido e perco a coragem de abandonar a cama. Está quentinho aqui e não me apetece saír. Viro-te as costas, aconchego-me no teu corpo e tu colocas o teu braço á minha volta. Quero ficar aqui... Onde me sinto protegida e em paz.

Hoje apetece-me... apetece-me ficar no teu abraço, quente e aconchegante, enquanto dormes profundamente e o teu respirar me acalma, qual canção de embalar,  até voltar adormecer... Apetece-me ser acordada, horas mais tarde, pelo teu beijo e a tua voz a sussurrar no meu ouvido, ligeiramente sobressaltada, dizendo-me que adormecemos os dois e estamos atrasados para o trabalho. Apetece-me abraçar-te e dizer-te que não vou trabalhar e que estavas tão querido que não fui capaz de te acordar... Que quero ficar em casa todo o dia a preguiçar e a namorar... Apetece-me ver-te hesitar, na dúvida entre ser responsável e ceder á vontade, enquanto te beijo... e por fim soltar um "que se foda" que me faz rir enquanto me puxas para ti e te tornas naquilo que chamo de ilegalmente carinhoso. Apetece-me ficar na cama a recuperar da maratona de paixão, transpirada e ofegante, enquanto as tuas mãos quentes deslizam pelas minhas costas nuas, acariciando-me e voltando a despertar-me o desejo de ti... Apetece-me ver-te levantar de mansinho, pensando que eu adormeci, e dirigires-te á cozinha, vestindo o roupão pelo caminho, para preparares torradas e voltares a acordar-me com o pequeno-almoço, que por esta altura já deveria ser almoço...  Apetece-me ver-te desistir do pequeno-almoço quando ouves a água do chuveiro caír e não resistes a entrar no banho comigo, e os 10 minutos que levaria se tornam numa hora, enquanto á nossa volta o vapor de água embacia o espelho que reflecte os nossos corpos colados, os meus gemidos ecoam na parede, perdendo-se nos teus, e as tuas mãos se entrelaçam nas minhas, deixando impressas as nossas palmas no vidro embaciado...e tu seguras-me quando perco os sentidos, e ouço a tua voz rouca e ofegante na minha nuca  "Foda-se...és boa demais para seres verdade..." quando também tu te deixas ir...  Apetece-me saír do banho, enrolada na toalha e aninhar-me entre as tuas pernas, enquanto vemos desenhos animados na cama e comemos finalmente as torradas, trocando um beijo ou uma caricia de vez em quando, rindo como dois adolescentes apaixonados... Não é isso que somos?   Apetece-me vestir qualquer coisa confortável e saír, deixando a cama por fazer, agora que a chuva parou, para tomar um café num sitio qualquer, e ficar sentada junto de ti, vendo a tua expressão mudar enquanto lês o jornal e brincas distraidamente com uma madeixa do meu cabelo...Apetece-me ver-te olhar para mim, e sorrires, quando percebes que estou imóvel há demasiado tempo, perdida na contemplação do teu rosto e inclinares-te para me beijar os lábios e afagar-me o rosto...
Apetece-me sentar no chão, aos pés do sofá, com um livro, enquanto vês televisão e te sobressalto de vez em quando com uma gargalhada em reacção ao que estou a ler e ver-te espreitar por cima da minha cabeça, tentando perceber o que me fez rir...
Apetece-me fazer o jantar, contigo ao pé de mim e sentir as tuas mãos na minha anca, quando me levantas e me sentas sobre o balcão da cozinha e me beijas carinhosamente, pousando depois o indicador do meu nariz,  rindo quando eu o tento morder e dizes "és tão bonita...adoro ver-te cozinhar... " e não te deixo acabar a frase, beijo-te, com o coração a bater descompassado, perante a tua sinceridade, perante a sorte de me quereres... a mim.
Apetece-me terminar o dia no sofá, com pipocas e gomas, a ver um filme idiota qualquer, com a cabeça encostada no teu peito e interromper subitamente o silêncio, torcendo-me nos teus braços para te olhar e dizer-te que te amo, apenas para te ouvir replicar "eu sei... mas eu amo-te mais..." e passarmos o resto do filme a trocar argumentos acerca de qual de nós ama mais não chegando a nenhuma conclusão que não seja que os dois amamos...até tu decidires pôr fim á discussão com um ataque de cócegas a que me tento esquivar, falhando miseravelmente e acabando a rir até ás lágrimas...

Hoje apetece-me simples e descomplicado... Apetece-me nós os dois, duas peças que se encaixam perfeitamente em todos os sentidos...Hoje apetece-me ser feliz... contigo.

Tive saudades...



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-Tive saudades... Ouço mal entro, ainda sem fechar a porta nem pousar a mala. Sorrio. É sempre assim que me recebes depois de uma viagem, de uns dias fora em trabalho, de uma saída mais demorada...Fecho a porta, ainda sem me voltar para te olhar, muito devagar, numa lentidão propositada. Deixo caír a mala e olho finalmente para ti. É uma visão que ainda me deixa sem ar, mesmo depois de todo este tempo. Sorris-me, encostado á parede, com os braços cruzados sobre o peito nu. Corro no espaço exíguo que nos separa, lançando-me para os braços que entretanto abriste, á minha espera. Na minha cabeça, o "lar, doce lar", nunca fez tanto sentido como quando regresso a casa e te encontro assim, tranquilo e relaxado... o meu porto de abrigo.

Fazes-me rodopiar e sinto a parede fria nas minhas costas. Entrelaças os teus dedos nos meus, habilmente, e prendes-me os braços acima da cabeça, com o olhar fixo no meu. Arqueio a sobrancelha com o meu melhor sorriso trocista no rosto. - Provocadora. - Acusas-me também a sorrir, com aquela expressão de quem sabe muito bem que vai conseguir o que quer. Viras-me de costas e em menos de nada o meu vestido azul está no chão aos meus pés, e as tuas mãos cobrem os meus seios, como se fossem feitas especialmente á medida para isso. Sinto a tua respiração quente na minha nuca quando me beijas o pescoço. Mordes-me, provocando-me um arrepio, bem diferente daqueles que ainda há instantes sentia no ar frio da rua e estou novamente de frente para ti, quando me pegas ao colo. Rodeio-te a cintura com as pernas, perdendo as minhas mãos no teu cabelo, procurando a tua boca com a minha.  Sinto o teu hálito quente quando esmagas os meus lábios num beijo ávido. Puxo-te o cabelo e um gemido gutural sai-te da garganta perdendo-se no nosso beijo. Afastas os lábios dos meus e murmuras "tive mesmo saudades tuas" e voltas a beijar-me, daquele jeito que pede mais e mais de mim e a que não me nego.  Arqueio o corpo e deixo escapar um gemido baixinho, quase um lamento, quando entras em mim. Pressiono o meu corpo contra o teu, liberta já da sensação de vazio que sinto sempre que não estás comigo, pedindo por ti, querendo sempre mais de ti. Beijo-te o peito e sussurro qualquer coisa incoerente enquanto sinto a tensão abandonar-me, substituída por algo diferente, infinitamente melhor...Encosto a minha testa á tua, e estamos olhos nos olhos mais uma vez... cravo as unhas nas tuas costas, fecho os olhos, completamente perdida, sem razão, sem noção e deixo-me ir, semi inconsciente e levando-te comigo...

Quando recupero a plena consciência, estou deitada sobre o teu peito, com o teu braço protector a aconchegar-me contra ti, e acaricias-me o cabelo ao de leve. Levanto o rosto para te olhar, só porque adoro olhar para ti quando estás assim, indefeso e transparente, saciado de mim e soltas uma gargalhada que te faz estremecer o corpo e me faz rir também. Levanto-me.

- Tenho de viajar mais vezes. - Digo-te, enquanto te deito a língua de fora. Corres atrás de mim até ao quarto e deixo-me apanhar, rindo como perdida e caimos os dois sobre a cama...

Já sei que não ficamos por aqui. Porque eu também tive saudades tuas.

Tive tantas saudades tuas.

Tu não sabes...



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Nunca tinha reparado nas mudanças subtis no castanho dos teus olhos, até estarmos frente a frente e os ver escurecer, á medida que a tristeza os invade. Quero dizer alguma coisa que dissipe a névoa que lá se instalou, mas o nó na garganta impede-me de falar e desvio o olhar. Sinto o calor da tua mão, quando pegas na minha e ao levantar novamente o olhar para o teu rosto vejo um meio sorriso apagado. Dizes-me que a culpa não é minha, que só queres que seja feliz... e pedes desculpa. Pedes desculpa pelas coisas desagradáveis que disseste,  por me fazeres ficar triste... Prometes que estarás sempre do meu lado, que poderei sempre contar contigo... E eu continuo em silêncio.

Se começar a falar, não serei capaz de conter as lágrimas, irei desfazer-me em mil pedaços na tua frente e tudo se tornará infinitamente pior. Sei que interpretarás mal as minhas lágrimas. E como cobarde que sou, deixo que me consoles, quando deveria ser ao contrário e calo as mentiras que vinha preparada para te dizer... Calo as recriminações e os absurdos que sei que te afastariam definitivamente de mim...

Finjo um sorriso que não sei se te conseguirá iludir e limito-me a murmurar um obrigada. E vejo-te levantar e sair para a rua cheia de sol.

Não conheces as mentiras que calei. E não imaginas as verdades que me levaram a calá-las. Não sabes que preciso de ti e que a simples ideia de te afastar, ainda que com mentiras, abre um imenso buraco no meu peito capaz de me fazer sangrar até á morte. Não sabes que te quero demasiado para ser capaz de viver tranquila sabendo-te distante e magoado. Não sabes que me é muito mais simples viver com o teu olhar carregado de mágoa por perto do que saber que os teus olhos se iluminam longe de mim. Não sabes que magoar-te continuamente, de todas as vezes que, inevitavelmente, os nossos caminhos se cruzarem, é mais fácil do que magoar-te apenas uma vez e nunca mais te encontrar pelo caminho. Não sabes, enfim, que sou egoísta e que suportar a tua dor me parece mais possível do que suportar o meu sofrimento pela tua ausência. Ou saberás?

E enquanto caminho pela cidade, com o sol já a pôr-se, perco-me na constatação de que nunca serei tão altruísta como tu, de que terei de viver com a culpa do que te fiz. Não tenho culpa? Não sou outra coisa que não culpada. E nem sequer posso pedir-te perdão...Nem sequer o mereço...
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