Sonhei contigo



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Esta noite sonhei contigo... já não acontecia há vários meses, pensei que estes sonhos tinham acabado...mas pelos vistos a minha vulnerabilidade durante o sono permite que pense em ti, independentemente de eu o desejar ou não... 

Habitualmente quando sonho contigo, és apenas uma presença... sinto-te, mas não te costumo ver, atormentas-me sem que te possa tocar ...esta noite foi diferente...esta noite vi-te tão bem quanto te senti...vi os teus olhos verdes fixos nos meus, senti o toque da tua mão, quente, quando afastaste uma madeixa de cabelo do meu rosto...

Esta noite não me magoaste com as palavras gritadas, como costumas fazer, e os segredos, sussurrados no meu ouvido, foram promessas de encanto ...  Não me afastaste, pelo contrário, procuraste manter-me perto, prisioneira, sem o ser, do teu abraço...

Esta noite não fugi de ti, procurando abrigo no ódio e na raiva como sempre faço, escondendo-me de mim mesma nas mentiras que te digo, negando aquilo que há muito sabes...Não senti o frio que sinto sempre quando sonho contigo, que me tolhe os movimentos e me paralisa os sentidos e que, inevitavelmente, acaba por me acordar, em sobressalto,deixando-me em estado de alerta e impedindo-me de voltar a adormecer com medo dos meus sonhos... 

Não, esta noite foi diferente... tão diferente... esta noite não fugi, deixei-me ser eu, exposta ás fraquezas de que me escudo, á sinceridade que oculto há tempo demais...senti apenas deslumbramento, quando os nossos olhares se encontraram, a minha pele queimar, incendiar-se sob o teu toque...não acordei até que o despertador o fizesse... 

E quando acordei, lamentei o regresso á realidade, abandonada desse terno enleio em que me encontrava e onde era feliz... Claro que os sonhos são apenas isso, sonhos, e não serve de muito perdermos a realidade e a vida na contemplação do irreal...

Está a ser-me muito difícil manter-me acordada e regressar a realidade onde te odeio e me sinto enganada, usada e magoada, um brinquedo de um miúdo caprichoso que apenas quer brincar com ele até encontrar um novo e mais divertido...
Não me sinto com grande capacidade de te odiar depois de um sonho tão bom... deve ter qualquer coisa a ver com o facto de eu me prender absurdamente ás ilusões, com o meu desejo de que a realidade seja um pouco mais mágica... há quem lhe chame inocência... essa coisa tão estúpida e inútil que regra geral serve apenas para me magoar... 

Quero dormir, na esperança que os pesadelos voltem e eu te possa odiar novamente... na esperança de libertar a memoria deste sonho e não continuar a pensar, de não ter de lidar com os "e se?" da minha realidade...


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