Pudesse ele...



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Pudesse ele esquecer quem é, despojar-se de si mesmo, despindo a essência, e ser por umas horas egoísta, deixando as consequências para depois...

Pudesse ele converter a insegurança que lhe entorpece o coração em coragem flamejante que lhe incendiasse os anseios desfazendo-os em cinza...

Pudesse ele extrair do seu âmago aquele sentimento que confinou ao mais recôndito da alma e que lhe revolve as entranhas, e colocá-lo a nu, em plena luz do dia, deixando-o livre para se revelar...

Pudesse ele segredar-lhe as palavras que de tanto serem caladas quase o sufocam e lhe queimam a língua, fazendo-as ecoar no íntimo dela, estrangulando-lhe a incerteza que lhe vê no olhar...

Pudesse ele roubar-lhe um beijo, que lhe sossegasse o desejo de a provar e lhe desfizesse a inquietação de saber qual o sabor dos sonhos...

Pudesse ele amá-la, extinguindo o fogo que lhe atiça a vontade de arder com ela, derretendo juntos numa chama perpétua...

Pudesse ela corresponder...

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