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O melhor de nós os dois foram sempre as discussões. Eram apaixonadas. Aquele momento de loucura em que estando a um passo do abismo, saltávamos. O momento em que gritávamos as palavras mais cruéis, despidas de sentimento real, nuas de significado verdadeiro, com a mera intenção de causar dor. Consumidos pela raiva, partíamos os porta retratos e rasgávamos as fotografias com as mãos trémulas. Esmurravas a parede e eu batia com as portas.Tu saías de casa e afogavas as mágoas, num copo fervente de ódio destilado por mim, na companhia dos teus amigos que te diziam que era só um arrufo. Eu ficava sentada no chão, encostada à parede, no escuro, com a tristeza a corroer-me a alma, contemplando aquilo que achava serem os cacos do nosso amor brilharem á luz da lua que entrava pela janela aberta. Voltavas de madrugada, com o cheiro do tabaco a impregnar-te as roupas, uma garrafa de vodka debaixo do braço e uma rosa roubada da vizinhança na mão, para me encontrares adormecida no mesmo sitio, no meio dos cacos, com o rosto marcado das lágrimas. Acordavas-me e oferecias-me um copo, punhas-me a rosa no cabelo e fazias-me uma caricia no rosto. Perguntavas-me se queria conversar, mas recomeçávamos a discussão, até que me silenciavas com um beijo selvagem...Acordávamos de manhã, enrolados um no outro, com a garrafa vazia ao nosso lado, pétalas de rosa espalhadas pelo chão, junto com as nossas roupas rasgadas e os corpos marcados da paixão da noite anterior. Olhávamos um para o outro e sorríamos, refeitos da loucura da noite anterior e, em silêncio, apanhávamos os cacos.

O melhor de nós os dois foram sempre as discussões.



(imagem: https://www.flickr.com/photos/dixonbaxi/2498445479/)

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