Finge que são verdades absolutas as interpretações que fazem daquilo que escreve, como se ela fosse um livro aberto, que pudessem ler e cujas metáforas pudessem desvendar sem conhecerem o contexto e o íntimo da personagem principal. Deixa que distorçam as palavras dela, reescrevendo a história, de modo a que seja sobre ti, como se ela não fosse capaz de dizer clara e directamente aquilo que sente, quando o sente, como se precisasse de intérpretes e figuras de estilo na hora de revelar o que de mais secreto guarda na alma. Permite que joguem com os duplos sentidos das palavras que escolhe, como se ela não as escolhesse propositadamente, como se ela não previsse que as fossem ler descontextualizadas, para provarem a teoria.
A verdadeira beleza da escrita é essa, o poder pôr o coração no papel e contar uma história que vai de encontro aquilo que sentimos, sem que essa seja, necessariamente, a nossa história ou então, contar uma história que nada tem a ver com o que sentimos, mas que vai de encontro ao que outros sentem, transmitir emoções que não sentimos no momento em que escrevemos, mas que sabemos que vão emocionar quem as ler, o poder viver num mundo de fantasia, sem tirarmos os pés do chão, criar personagens inspiradas em pessoas reais e podermos ser quem nunca fomos ou seremos.
E sim, a escrita será sempre a primeira paixão dela, o seu elemento, onde se sente confortável, onde se pode exprimir com maior facilidade, onde pode encontrar conforto, onde pode repousar o ser quando o raio da vida parece demasiado complicada, onde o amor, a paixão, a dor, o medo, a solidão e até mesmo o silêncio são fáceis de compreender, de revelar, de expressar. A escrita será sempre o porto de abrigo da sua alma, onde os segredos tanto podem estar escondidos á frente dos olhos, numa frase simples, como podem ser revelados numa frase difícil de decifrar, onde os seus demónios tanto se consomem, como renascem, onde os sonhos tão depressa nascem, como fenecem, onde se perde e se volta a encontrar.
Quanto ás interpretações... Vou facilitar-te a vida, sim, "ela", neste texto sou eu.
E tu? Interpreta como quiseres ou deixa que interpretem por ti...