Abraçou-a. Não era fácil abraçá-la, sempre a esquivar-se a qualquer demonstração física de afecto, como se temesse que o toque, por mais inocente que fosse, a pudesse desarmar e derrubasse a impenetrável muralha que erguera á sua volta e que na maioria das vezes era imensamente eficaz a manter as pessoas á distância.
Odiava vê-la assim, fragilizada, indefesa, de olhar turvo pelas lágrimas e parecendo completamente perdida, esquecida até de usar a máscara de dureza que usava habitualmente para se proteger do mundo.
Há muito que esperava poder abraçá-la mas detestava que fosse assim. Colocou os braços á volta dos ombros dela e apertou-a contra o peito, procurando escudá-la da dor que a assolava e cujos motivos ele desconhecia. Procurou colocar naquele abraço todo o carinho que sentia, todas as palavras doces que ela, com aquele jeito fugidio, nunca lhe deu oportunidade de dizer.
Sentiu a cabeça dela encostada ao seu peito, e as lágrimas molharem-lhe a camisa. Baixou o olhar para ela, e viu as longas pestanas cobertas de pequenas gotas cintilantes e os olhos cor de avelã olharem-no. Sentiu-a contorcer-se no seu abraço, esticando uma mão trémula que lhe pousou na face, e viu o rosto dela aproximar-se. Sentiu os lábios quentes dela e o sabor das lágrimas salgadas.
E o tempo parou.
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