Esquece-se dela, no momento em que se despedem, como se ela apenas existisse ali, naquele lugar onde ela sorri com lábios de morango e ri com vontade, numa gargalhada quase musical, onde as palavras fluem como um rio e discorre apaixonadamente sobre sonhos e ideais, onde ela se afasta e evita o toque, quase como se temesse que uma corrente eléctrica a atravessasse, onde baixa o olhar avelã, daquele modo tão característico, numa timidez tão estranha em alguém que parece tão extrovertido.
Esquece-se dela, naquele lugar onde ele pode fazer confidências e contar-lhe histórias e ideias sem nexo, onde pode ser mais frágil e humano sem temer que o ache fraco, onde pode perder-se em ilusões e sonhos e sentir-se acompanhado, onde franzir o sobrolho de concentração, numa expressão tão habitual nele, não é considerado sinal de amuo ou aborrecimento, onde pode ser quem é, sem estranhezas ou embaraços.
Esquece-se dela, naquele lugar onde pode observar-lhe os trejeitos e expressões, sem receio de interrupções, sem temer que ela possa perceber, concentrada que está em evitar encará-lo, onde se contém e não diz as palavras que lhe queimam a língua, onde a vontade de perder a razão com ela lhe devora as entranhas, onde é, enfim, seguro estar com ela.
Esquece-se dela, naquele lugar, onde a existência dela não se fina, mas lhe é mais agradável, onde a pode esquecer hoje e reencontrar amanhã.
Esquece-se dela, para não ter de a lembrar, a cada passo que dá, com a consciência que a vida lá fora nunca será como naquele lugar.
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