Quando ficas a sós, interrogas-te, uma e outra vez. Na tua cabeça, como num filme, passam, uma a uma, todas as conversas, cada momento, em câmara lenta, para que os possas rever e analisar. Arranjas mil e uma desculpas, argumentos vazios para o "é impossível" em que queres tão desesperadamente acreditar. Debates-te internamente entre o que é visível, factual, os gestos, as atitudes, e o que é meramente abstracto, os motivos, as intenções.
Mas mais do que duvidar do que lhe vai na alma, e que denuncia apenas em pequenos gestos, suspeitos sim, reveladores talvez, mas justificáveis, pelo menos na tua óptica, recusas-te a assumir o que te faz sentir.
Queres acreditar que realmente não passam de coisas da tua cabeça, ilusões, más interpretações, porque dessa forma podes continuar a fingir que não sentes, que não te afecta e não precisas de pensar mais nisso, porque "nunca vai acontecer". Sem uma centelha de luz que possa tornar o teu "impossível" possível, não tens de lidar com a dimensão da tua própria vulnerabilidade, com todas as fragilidades, anseios e medos que a tua condição humana acarreta.
As perguntas sem resposta acumulam-se, corroem-te como ácido, infiltram-se em todos os teus pensamentos, minam a tua mente e roubam-te a paz de espírito. Queres questionar, tirar esse peso do peito, mas colocas tudo em perspectiva, analisas tudo de diferentes ângulos, pensas demasiado, temes sem saber bem o quê.
O "E se..." é esta noite, uma vez mais, a tua melhor companhia, quando deitas a cabeça na almofada, ciente de que os teus sonhos vão ser povoados por aquele olhar... Amanhã, provavelmente, será o teu maior arrependimento. E se...?
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