Ás vezes a solidão toma conta de mim. Tenho gente à minha volta, mas é como se não me vissem. Como se olhassem para mim através de um vidro fosco e não vissem mais do que uma imagem desfocada de mim. Falo, mas as minhas palavras não têm significado. São só palavras, que ninguém interpreta. Tento tocar, mas não alcanço mais do que o ar que me rodeia. É como se eu fosse um fantasma. Estou presente, mas os sentidos de quem me está próximo não me detectam a essência.
Ocasionalmente surge alguém, cuja sensibilidade, mais apurada, parece identificar a minha presença. Olha para mim. Fixa o olhar no meu, como se me quisesse garantir que sabe que eu estou ali. Fala comigo, numa linguagem muito minha e interpreta correctamente cada uma das palavras que lhe dirijo. Abraça-me e eu sinto esse abraço. E eu volto a sentir-me humana. Como se a minha alma voltasse a habitar o meu corpo depois de um longo período a viver como zombie.
No entanto, essa ressurreição é na maioria das vezes passageira. Porque a sensibilidade desses alguns apenas dura enquanto ninguém mais os vê. Enquanto são seres tão sós como eu. No momento em que um dos "vivos" repara nas suas existências, deixam de me ver, de me sentir, de me falar. E eu volto a ser apenas um fantasma.
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