Perguntas como me sentiria se morresses. Se não mais pudesses escrever coisas bonitas e o modo como feres com as palavras fosse apenas recordação, se a noite que te apaixona se tornasse para ti eterna e não mais visses o amanhecer , se em vez de fotografares, tudo o que restasse de ti fossem fotografias, se não fosses mais do que um cadáver a apodrecer debaixo da terra, sofreria. Sofreria por mim e por ti. Por mim, porque certamente haveria muito que te quereria ter dito e nunca disse. Porque não me foi concedida a oportunidade de te conhecer melhor. Porque não teria o suficiente de ti para em vez de me entristecer, ficar grata pelo que me deste. Porque me parecerias sempre demasiado especial para seres levado. Porque sentiria que uma parte de mim acabada de conhecer me fora roubada. Por ti, porque sei que terias muito para dar aos que amas. Porque terias sonhos ainda por realizar. Porque não terias vivido tudo o que querias. Porque haveriam novas formas de encanto que não terias oportunidade de conhecer. Porque não quererias que os que amas se entristecessem com a tua morte. Na altura em que me perguntaste, não te disse nada disto. Mas se tivesses partido naquele momento, sei que me sentiria assim.
Hoje não me sinto assim. Tu não morreste. Ainda podes escrever coisas bonitas, apenas não serei eu a lê-las. Ainda podes usar as palavras como armas, mas não será a mim que ferirás. A noite ainda te pode apaixonar, apenas não me falarás dela. Ainda podes ver o amanhecer, mas não te direi que detesto a luz da manhã. Ainda podes fotografar, apenas não me mostrarás essas fotografias. Ainda és corpo e alma, mas não para mim. E sofro. De um modo diferente. Não sofro por não existires. Sofro por me teres mostrado que existias. Por me teres vindo acordar da minha dormência, só pelo prazer de provares a ti mesmo que o conseguias, para depois partires sem te importares. Saber-te entre os vivos prova que poderia ter feito algo para evitar sofrer assim. Poderia ter evitado acreditar em ti. Poderia ter evitado gostar de ti. Poderia ter evitado que me encantasses. Se não soubesse que existias, não lamentaria o teu desaparecimento. Se não tivesses entrado na minha vida, não choraria a tua ausência.
Se tivesses morrido, sofreria, mas saberia que não haveria nada que pudesse ter feito para impedir a tua morte. A dor, acabaria por acalmar, e ficaria apenas aquela melancolia que empresta a todas as coisas uma beleza magnifica. Acabaria por seguir o meu caminho, levando na lembrança o pouco de bom que me deste.
Não é que deseje a tua morte. Mas se tivesses morrido, saberia que não seria para me magoar.
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