Sabia que ele tinha de ir. Já há muito que tinha aceite que um dia ele partiria. Que não haveriam mais cartas. Que as rosas, as túlipas e os girassóis não seriam mais roubados para ela. Que não haveria mais poemas escritos em guardanapos. Que chegaria o dia em que o pôr do sol seria só dela novamente. Sabia que era o momento de dizer adeus. Aquele amor, estava condenado à nascença. Duas almas com tanto de parecido e, no entanto, tão diferentes. Ela combatia demónios que ele não sabia como exorcizar. Ele tinha os fantasmas do passado a ensombrá-lo e ela não sabia como os afastar. Ambos sabiam que aquele interlúdio romântico duraria apenas o tempo suficiente para os marcar de forma indelével. Também sabiam que, uma vez terminado, não haveria uma única deixa que o mencionasse. Ele não voltaria a pronunciar o nome dela, ela nunca mais tocaria no dele. Nunca mais se voltariam a ver. Nunca mais falariam. Marcados e a viver com essa marca em silêncio. Porque as melhores coisas da vida, são guardadas no silêncio de quem as vive.
Aquela era a derradeira despedida. Beijaram-se e começaram a caminhar em direcções opostas. Ela na direcção da casa, ele em direcção ao mar. Ambos choravam, mas nenhum viu as lágrimas do outro. Ela ocultou as dela. Não queria que ele ficasse por pena. Teve medo que se a visse chorar, ele decidisse ficar, contra o que lhe mandava o coração. Ele segurou o choro até que ela não o pudesse ouvir soluçar. Não queria que ela ficasse presa a um amor que só parecia magoá-la. Decidiu por ela, e não por si. Se tivessem sido capazes de falar, talvez ambos decidissem ficar. Mas cada um deles decidiu pelo outro.
E ele não sabia, mas ela fechava as portas da cabana em frente ao mar pela última vez. Nunca mais lá voltaria. Deixava tudo tal como tinha ficado quando ele saíra. Porque se algum dia ele voltasse, tudo estaria igual. A ausência dela seria a única coisa diferente. E se a ausência dela o incomodasse, ele sabia onde encontrá-la. Mas aquela era apenas uma forma vã de manter acesa uma chama extinta. Era apenas a esperança vazia num amanhã que nunca se concretizaria. Eles nunca mais voltariam lá.
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