Permiti-me ser ingénua



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Fizeste-me chorar. Desrespeitas-te o que de mais sagrado e de mais sincero existe em mim. As minhas lágrimas. Fizeste-mas derramar, sabendo que não eras, não és, nem nunca serás digno delas. Fizeste com que caíssem e pela primeira vez, apressei-me a apagar-lhes o rasto. Porque pela primeira vez envergonhei-me do que sentia. Envergonhei-me por ser capaz de gostar de alguém como tu o suficiente para chorar.

Agora, o tempo começa a curar a ferida. Ainda não começou a cicatrizar, é demasiado profunda. Mas já não sangra. E a dor já é suportável. Já não me envergonho. Porque se senti, foi porque mo permiti. Permiti-me ser ingénua. E se alguém deve envergonhar-se, és tu. Tu que violaste essa ingenuidade, tu que me roubaste a bênção de ser capaz de acreditar no melhor de cada pessoa.  Tu que tiraste partido de um sentimento verdadeiramente inocente para me ferires e me abandonares a sangrar. Foste o algoz da minha ingenuidade. Magoaste-me tanto que se fosse possível partilhares da minha alma por breves momentos, chorarias e pedirias perdão.

Mas não quero as tuas lágrimas. Não quero que me implores por perdão. Se o quisesse, faria com que o sentisses. Magoar-te-ia tanto que morrerias de dor. Sabes que seria capaz. Mas jamais to faria a ti. Porque eu sou algo que nunca saberás ser: pura.


Se os caminhos da vida nos levarem a estarmos frente a frente, à tua espera haverá um sorriso e um -como estás? A mágoa que sinto não desaparecerá mas quererei sempre o melhor para ti. Porque apesar de toda a maldade que encerras em ti, já me fizeste sorrir, já me inspiraste, já me ensinaste. Porque apesar de me teres magoado, soubeste encantar-me o suficiente para o poderes fazer.  Porque apesar do punhal  que me espetaste  ser afiado, o cabo era de uma beleza tão esmagadora que me distraiu da dor.

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