Quando penso na minha alma, penso-a sempre e preto e branco. Como se fosse um filme muito antigo, gravado debaixo de chuva e a imagem estivesse cheia de grão. Dá a ideia de um lugar triste, solitário. Uma rua nas imediações de um qualquer centro histórico, em pleno inverno, durante a noite. Não que eu seja uma pessoa sem cor. A minha vida veste-se de azuis, amarelos, rosas e verdes. Mas a alma, essa, tem sempre tons que variam entre o preto, o branco e o cinzento. É obscura.
Talvez me tenha encantado por uma solidão qualquer que se foi instalando na minha alma e fez dela a sua casa. Aliás, quase todas as coisas de que gosto no mundo, são solitárias. Quando penso num farol, vejo-me sozinha, junto ao farol a olhar o mar. Se penso num comboio, imagino-me sozinha, num daqueles comboios antigos, cujas portas ainda abrem em movimento, com um livro de poesia como companhia. Quando penso em árvores, vejo-me sentada debaixo de uma árvore despida de folhas. Sozinha, sempre sempre sozinha.
O Outono é a minha estação preferida. Na minha opinião, a mais bonita. Porque é melancólica. Triste. Acho que a minha alma é Outono. Mas um Outono sem os dourados, vermelhos e laranjas que o costumam colorir. É um Outono chuvoso, com árvores despidas, vento a virar as páginas de um livro abandonado sobre uma mesa de jardim. É um Outono cinzento.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 comentários:
Enviar um comentário